Desarrumado – 1993– Plasma Editora.
Tom Callahan
Inglaterra
(1967)
Kafka se aproxima da menina chorosa e conta que sua boneca não tinha se perdido e sim viajado. A boneca havia mandado uma carta para a menina contando do seu passeio e essa carta seria entregue nos dias seguintes. Kafka, então, se põe a escrever as cartas. A boneca se chamava Alice e atravessava um espelho onde encontrava um mundo onde os tigres eram deuses. O livro é Desarrumado e o autor é Tom Callahan e mistura várias referências literárias com filosofia:
“Para o primeiro Heidegger, o conceito de Desarumar-se aborda muitas questões. A principal delas toma como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se intermediar com o seu passado: o homem é um “ser que se desarruma” e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de não-passado e não-futuro, ou seja, o não-rumo. O homem deve tentar arrumar o seu caminho, fugindo de sua condição cotidiana para atingir sua verdade.”
O importante, aqui, é desarrumar as expectativas do leitor. É trazer o horror e o inferno para a literatura. A escrita de Callahan é sempre a mesma, e é uma cilada: tendo passeado por ali, você de lá nunca sai. São imagens inacreditavelmente magnéticas, que mesclam um apelo primordial e infantil a uma coisa ao mesmo tempo mística e sinistra.
Trechos:
“Correr me faz pensar e me obriga a refletir sobre o que estou fazendo. Já inventei muitas histórias para bonecas chamadas Alice. Você tem um nome Alice? Ou qualquer outro que possamos usar agora?” (Pág. 14)
“O importante é entender –me a mim mesmo, é perceber o que Deus realmente quer que eu faça; o importante é achar uma verdade que é verdadeira para mim, achar a ideia em prol da qual posso viver e morrer. A ideia de um tigre. Ou de um cavalo que só surge quando eu o desenho, a trotar ao meu redor.” (Pág. 87)
“Floresceríamos, eu e tu, a rosa chamada ninguém, no espinho abaixo do mundo.” (Pág. 119)
“A história como esse cavalo, se fazendo selvagem, se fazendo crinas e cascos, usando sua mandíbula veias e músculos para dizer: me conte.” (Pág. 126)
Tradução: Carolina Pires.
Kickin’ ass again! (mas a história da boneca é fato – achar essas cartas faria a fortuna de alguém, e a nossa também). 🙂
E a fortuna crítica também.
Esse trecho “O importante é entender a mim mesmo……” é excelente. Ficou gravado em minha mente desde a primeira vez que li em algum lugar da internet.
Não encontro esse livro.
Ah, parece que é uma fábula da infancia como “O oceano no fim do caminho” de Neil Gaiman.