Samovar Aprilla-Ayala
Sumagre e Ravina 16 – romances paralelos – 1986– Editora Metrópolis.
Espanha
(1913-1988)
Dois romances lançados ao mesmo tempo em 1986 sob a denominação de Romances paralelos: Sumagre e Ravina 16.
O romance Sumagre pode ser lido como uma ode à vida, apesar de tratar da morte e das suas cintilações. É uma distopia em que os animais se revoltam contra a humanidade e passam a realizar assassinatos. Todo o livro é narrado pelo menino Felix, que faz uma viagem a pé pelos campos do México. Sumagre é um emocionante conto de paixão, dever moral e de grito das forças do subconsciente. Apesar do tom de fábula, os animais não falam, mas os homens também não falam. Pelo menos até a chegada de um misterioso forasteiro com o dom da palavra oral. Em último caso, trata-se de uma história sobre o poder da linguagem.
Ravina 16 é um romance que conta a história de Sóstenes, um protetor dos humanos, que em plena guerra contra os animais, fareja excrementos com o intuito de manter sua espécie longe dos inimigos bestiais. Ele espera a chegada do messias, um cero forasteiro com o dom da palavra oral. Esse personagem nunca chega. Em último caso, trata-se de uma história sobre a linguagem e o que ela não pode comunicar. Como disse Wittgenstein, “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”. Note-se a repetição do texto de uma página inteira nos dois romances, a página 56.
Os mundos paralelos dos dois romances não se tocam. E um deles será sacrificado.
Trechos de Sumagre:
“E havia o cavalo Memo, que matou o papai às patadas.” (Pág. 35)
“Não esperem de mim o nome que tropeça selvagem, não esperem de mim a onda que excita o latido dos cães, não esperem de mim a obra que cai o homem.” (Pág. 37)
“O rito sacrificial dos relinchos e dos uivos, o lobo é o lobo do homem…” (Pág. 56)
“A mais grave ocupação de carrapatos desde a tomada da cidade grande.” (Pág. 134)
Trechos de Ravina 16:
“Compreendi, então, quando estamos apaixonados por uma ideia ela é como uma salvação que nunca virá. Um homem superior que parece viver em outros mundos.” (Pág. 28)
“O rito sacrificial dos relinchos e dos uivos, o lobo é o lobo do homem…” (Pág. 56)
“As ravinas contavam-se em dezesseis. Eram os túmulos de areia da nossa gente, escavados pelos dedos de chuva da velha cidade de mil campânulas…” (Pág. 87)
É interessante notar que, no projeto gráfico da Editora Metrópolis, as capas são complementares, criando uma mesma mancha de sangue em fundo branco.
Tradução: José Ricardo Villanueva.
Eu prefiro me alinhar com os intérpretes que defendem a tese de que o texto da página 56 não se repete. As palavras são as mesmas, dispostas na mesma ordem, formando as mesmas frases, porém o texto é diferente.
É uma maneira nova de ver as coisas, Marcos.
Onde consigo comprá-los?
Infelizmente está esgotado, Sarah.